quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PRECISO DORMIR

Que luz é essa que ofusca a sombra dessa madrugada?
Esse raio que invade o quarto
E se abate contra a minha mente
Embriagada pelo sono matinal?
Que som é esse que entra pela janela
Queimando os meus típanos
Antes adormecidos
Nessa altura toda?

Deixa-me dormir um pouco mais
Preciso de alguns minutos de sono
Quem dera ficasse nessa cama a eternidade!
Mas não preciso de tanto
Só um pouquinho mais.
Não acenda a luz!
Meus olhos imploram pela sombra
Deixe a magia da escuridão nesse cômodo!

Daqui a pouco acordo e conversamos
Me deixa dormir em minha covardia
Não quero acordar depressa.
Encarar essa vida como estou?
Por favor, não!
Quando estiver bem, desperto e falamos
Mas agora prefiro os sonhos...
Ou pesadelos!

Não me chama pelo nome
Prefiro o silêncio desse ventilador!
Esse lençol que me cobre dá alguma esperança
Distancia-me de algum modo do exterior.
Medo é isso!
Puro pavor de abrir os olhos “eu mesmo”
Quem dera uma cegueira me tomasse
Uma alergia ao mundo... Ao dia.

Não vou mais falar com você
Você não me ouve mais
E eu não quero mais te ouvir nem pedir desculpas.
Chega dessa prosa matinal
Desse se acertar diário
Não sou certo... Nem sou diário
Sou esse ser com sono
Sem motivação para a claridade.

Não é isso!
Errou de novo sobre mim.
Não sou o melhor dos sujeitos
Sou só esse sujeito na cama
Que eu não suporto mais
E que você não precisa tolerar
Me deixa dormir...
Talvez o sono me convença do contrário.

Eu te amo demais
Por isso te imploro... Me deixa!
Nessa hora exata meu problema é sono
A briga de ontem consumiu minhas forças
E minha cabeça não parou a noite toda
Preciso sonhar com novas ilusões
Preciso dormir um pouco
Aí conversamos.

joasvicente

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"FINDE"*

Quero aprender uma língua nova
Onde os sentimentos se expressem com contorno diferente
Quero pensar de forma outra
Em que as emoções estourem em mim
Como sóis explodindo em mim só.

Pronunciar cada expressão
Como se estivesse a aprender a falar
Entendendo em cada palavra seu significado inicial
A sua entonação própria
A sua particularidade nativa.

Ser natural de outro lugar
Um estrangeiro distinto de mim mesmo
Distante de tudo o que eu penso... como penso...
Longe desse pensar “viciado”
Que usa as palavras como meros souvenir’s.

Soletrar cada termo
Com a novidade da descoberta
E a intensidade de quem acabara de aprender
A emoção do primeiro encontro
Com esse novo vocábulo que surge um mim.

Aprender um novo idioma
Um jeito novo de dialogar
Em que tenha que remontar
Trecho por trecho dessa nova fala
Com uma sonoridade forasteira.

Saborear os encontros vocálicos desse novo texto
As conjunções e criações dos poetas que não li
Os ditongos e hiatos dessa mentalidade exótica
O sabor de fonemas novos... das pronuncias novas
Quero a língua livre em mim.

Entender as coisas com esforço
Quebrando as cadeias das regras gramaticais
Buscando mecanismos novos pra dizer coisas antigas
Falando cada palavra com a dificuldade
Que o mero entender não permite

Quero o novo... o diverso!
Falar em uma língua original
Talvez um verbo só... um começo
Uma silaba... uma expressão
egy másik szót!*


* “finde”: palavra criada por minha sobrinha
*húngaro: outra palavra

joasvicente

terça-feira, 17 de novembro de 2009

NO ESPELHO

A agonia da loucura que chegara tão perto de mim
Se foi como um raio num dia de verão
Deixando marcado como lembrança
A doce e lancinante insensatez.
Ficou em seu lugar
Esse sujeito politicamente correto
Acostumado a essa normalidade tão habitual.

A vida passa como um relógio parado
Os odores selvagens e febris
As impressões dolorosas e revigorantes
Os desatinos ao acaso... de relance
Desapareceram fortuitamente
Como parte de um encanto qualquer.

A melancolia e as dores juvenis
Ofuscaram-se em definitivo.
Os dias tornaram-se monótonos
E o corpo é um vão vazio
Onde o dissabor da desilusão
E a penumbra da indiferença
Trancaram-me comigo nesse quarto frio.

As lembranças pouco a pouco se esvaem
Essa assombração que sou hoje
Sente a existência como constrangimento
E caminha sem interesse
Moído pelo tédio e pelo enfado
Rumo a essa noite escura
Sem o candeeiro da alucinação.

Quero loucura nessa vida nada
Um gostinho ardente de insanidade
Que traga de volta os despautérios do improviso
Nesse frio gélido e inóspito
Que se transformou esse espectro sem vida
Que reconhecido no espelho
Teima em me chamar pelo nome.

Esse não sou eu!
É apenas uma imagem inverossímil
De uma realidade relegada a um devaneio.
O despertador logo... logo anunciará o dia
E o engodo da covardia fugirá de mim
Recomposto desse pesadelo aterrador
Abrirei os olhos para essa realidade repentina
E serei eu novamente!

joasvicente

DESCUIDO!

Diante desse desejo louco que ressurge em mim
Paira uma ebulição de paixão
Como uma vontade insana de me descuidar.
Passa distante de mim esse espectro aterrador
Que hipnotiza-me por completo
Com suavidade... pavor e beleza.

Meus olhos prostrados diante de tamanha formosura
Saciam por um mero instante
Esse incômodo perpétuo de visão tamanha encantada.
Que passa sorrateiramente pela janela
E deixa em meu pensamento
A ilusão do próximo encontro.

Como um imã de intenso magnetismo
Minha alma é compelida a deixar o meu corpo
Meus olhos cheios de temor
Padecem de uma doença sem explicação
Que deixa marcada em minha alma
A dor de você passar e eu te olhar.

Certas vezes busco esse olhar em outros olhos
Mas só enxergo essa vivacidade tua
Nessa face iluminada
Que infamemente não é minha
Mas que roubo-a de te
Nesses teus raros momentos de descuido.

Descuida-te senhora!
Passas lá no caminho da estrada
E deixa o teu cheiro nas brisas.
Deixa esse encantamento encantado
Como um aroma exalado de teu corpo
Envolto nessa penumbra que é o meu pensamento.

Perde-te nos meus olhos
Nem que seja de relance... ao acaso
Dá ao meu peito essa ilusão ultima
De te imaginar minha sem o ser.
Não desvia-te de meu olhar
Descuida-te!


joasvicente

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

REMEXENDO AS LEMBRANÇAS

A casa velha que carrego dentro de mim, com três pequenos cômodos e um quintal grande, onde em todas as tardes, a vida parecia ter sentido. Poucos móveis... Muito silêncio, quebrado vez por outra pelas brincadeiras dos primos todos, que invadiam aos berros, os minúsculos corredores, naquelas tardes-noites da velha casa de minha infância.

A porta da frente... A janela ao lado... As palmeiras na varanda... O velho muro! Nem sei se existiram de fato, mas vivem dentro de mim, como uma invenção minha de um passado meu, onde perpetuava-se a alegria de ser criança e não entender as coisas como as entendo hoje. Onde reinava a ilusão de que a vida não passaria, e o mundo era tudo aquilo que eu via... Que eu tocava, que eu sentia e que eu não sinto mais.

A geladeira velha, a jarra no canto da cozinha, a aurora que se anunciava pelas frestas das telhas, os tios reunidos em torno da mesa, as toalhas coloridas, onde serviam-se coisas tão saborosas para aquele meu paladar juvenil. Pouco a pouco, cada primo atravessava aquelas cortinas esvoaçantes que demarcavam a extensão dos quartos, as redes eram recolhidas, os lençóis forrados sobre colchões duros de capim, aquele cheiro primeiro de felicidade que nunca mais encontrei em mim, emergia com vigor, realçando a minha alegria de menino.

O sabor das frutas, que nem sei ao certo se provei, mas que guardo escondido em minha boca, como uma ilusão de moleque. A água barrenta nos potes que se aglomeravam sobre a prateleira, o arrastado do chinelo no piso de chão batido, o cheiro de terra no ar... A fumaça do fogareiro no terreiro, o banheiro escondido num cubículo por trás da casa principal, tornam-se lembranças de um tempo em que à beleza existia, porque eu a via em tudo que me cercava, sem ser um plano vindouro.

A rua em frente, o rêgo que corria de um lado pra outro, como se o mundo inteiro coubesse naquela travessa sem saída, naquela alameda minúscula, que meu coração idealizava como imensa. O cheiro de fumo no ar, oriundo de grandes baforadas do cachimbo do velho avô... as reclamações dos vizinhos... as conversas de fim de tarde em todas as calçadas daquela pequena vila.

Tudo isso são lembranças minhas, que compartilho nesse texto pra não esquecer, de onde eu vim e quem sou eu, nesse universo tão imenso, de tantas possibilidades, mas que em mim poderia resumir-se àquela velha casa de minha infância, onde eu era feliz, porque nunca pensava no que era começo, no que era meio, no que era fim. Porque não entendia ao certo o que é felicidade, por isso era feliz.

joasvicente

terça-feira, 15 de setembro de 2009

NADA-EU

Minha saga é essa
Morrer de tédio
Embutido nessa alucinante sensação
De que nada é completo
De que a felicidade é utópica
E a vida é como esse despertar
Agoniado... doído... sem razão.

Carrego essa imposição do destino
Como uma espécie de sina
Que decreta minha inércia total
Diante dessa tragédia anunciada
Que se apresenta sob a forma de dias
Longas noites...deploráveis madrugadas...
Habitadas pelo desprazer da rotina.

Vez por outra o dia dura tanto
Que preciso dormir antes do crepúsculo
A fim de encurtar de algum modo
Essa agonia latejante
Essa vida sem propósito
Essa existência sem motivo
Esse nada-eu!

Nas noites estéreis o alívio são as cobertas
Fecho os olhos com firmeza
Para que a ilusão do sonho acabado
Permaneça em minha mente.
Inda que essa realidade angustiante da insônia
Traga a tona, toda a dor de sentir o mundo
Enquanto o mundo dorme.

Como uma roda viva
Nesses instantes minha mente pensa
Quando não era pra pensar.
Surgem teorias ensandecidas
Cálculos indecifráveis... Realidades irreais
Que permeiam meu pensamento
Até o bafejo dos primeiros raios solares.

Esse estado de desatino pleno
Acompanha-me continuamente
E a aflição é algo certo pra mim
Como as páginas de um livro de receita
Onde os ingredientes estão discriminados
E o meu corpo vai juntando-os
A fim de servi-los na mesa da existência que é a vida.

Eu vou comendo cada bocado dessa refeição fria
Com o dissabor de quem não tem paladar
Com a ânsia que chegue ao fim
A vida que mata a fome de todos
E marca-me como tortura
Perpetuada nessa minha covardia
De não acabar logo com isso!

Bang!

joasvicente

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

“SOU UM ADOLESCENTE!”

Eu sou um adolescente de escola!
Sempre fui... você não percebeu?
Minhas atitudes sempre foram extremas... inadequadas
Sempre fui aquele imaturo... volúvel.
Nunca percebi a diferença entre discrição e loucura
Sempre foi um problema pra mim
Distinguir entre prazer e sensatez.

Esses tempos de instabilidades
Perpetuaram-se em mim
Como as sobras de uma sombra de um vulcão qualquer.
Dia desses, morro de ser eu
Morro de cabeça erguida
Pois foi ato de confessionário
Esse não se adaptar a essa coisa cotidiana... A vida.!

Por isso hoje prefiro a puberdade
Esse individuo de olhos fechados
Para quem a novidade não é o agora
É o sentir do próximo minuto
Em que me estendo sobre essa vida imediata
Sobre esse sentir próximo...
Nessa existência urgente!

Querem saber de uma coisa?
Arre com os estetas... com os psicólogos...
Esses abutres da angustia alheia.
Arre com o mundo todo “perfeito”
Salve a melancolia... as dores... os despautérrios
Viva a tudo o que se assemelha a essa contra-evolução
A esse contra-senso... a essa CON-TRA-DI-ÇÃO!

Saúdo os amargurados
Sou um adolescente, ouviram?
Um quase adulto...
Nessa vida, quase vida
Desse mundo quase nada
Desse nada eu... ou quase eu.
Não sei ao certo.

Sou o irresponsável... o equivocado
Com vontade intensa de ser
Inda mais bobo e menos lúcido.
Menos propagador dessas idéias todas
Filosóficas... Intelectuais... Sábias...
Que carregam como pano de fundo
O controle esmagador da razão.

Palmas para a sem razão
Para o pensamento inacabado
Para esse trauma todo que se manifesta como agonia
Como aflição... Como paixão!
Sou o apaixonado em potencial
Que vive essa eterna juventude
Expressa em mim como solidão.

Sou só... Sozinho!
Vivo por esse caminho tortuoso
Esse vácuo ardente e impetuoso
Chamado de “meu pensamento”.
Vivo no limite de todo esse desespero
Preso em minha cabeça
E expresso nesse texto sem nexo.

Esse texto sou eu!
Sem o discernimento que marca os ponderados
Sem o amor que marca os amantes
Sem o isolamento que marca os solitários
Sem nada como conceito.
Apenas perpetuamente adolescente
Púbere de alma!

joasvicente

sábado, 1 de agosto de 2009

ODE A BEBIDA!

E ainda perguntam por que as pessoas bebem
Atribuindo a esse ato tão sacro
O título sóbrio de vício.
Só uma dose... um copo... um trago
Pode devolver a dignidade de um sujeito
Que em plena sexta-feira lembra de sua condição
De escravo dentro dessa selvageria denominada “mercado”.

Garçom, uma cerveja por favor!
Esse é o grito de rebeldia
Que ecoa como um hino eclesiástico
Como uma opereta italiana... uma comédia musical
Em todos os recantos do país
Desde os bares da moda dos bairros requintados
Aos botequins de beira de calçada.

Do mesmo modo bebe-se
Na busca de sentir em pequenos goles
O ardor febril da vida difícil
Da insatisfação latente
De toda essa humanidade incompleta
Que é criada para o sucesso
Mas desde cedo se reconhece imperfeita.

Salve os copos de quem beberica
Salve os discursos eufóricos
Típicos dos sujeitos que se vêem inacabados
E partilham da suprema arte do primeiro gole.
Salve os debates sobre futebol... mulheres... arte
Fieis acompanhantes da erudita sensação
De ver a vida sob uma ótica ébria.

Sujeitos se aglomeram em torno do liquido divino
Como parte de uma seita secreta
Compartilham de um mesmo cálice sagrado
Participam como numa espécie de iniciação
Almejando o título máximo
O esquecimento... a emotividade
O ultimo gole de sensatez.

E os tímidos... os tristonhos de alma?
O que seria desses sujeitos?
O que seria da vida sem o porre providencial
Sem a conversa sem nexo
Sem o levantar a mão ao ouvir a música favorita
Sem essa aura toda que a bebida inaugura
E a gente se deixa levar?

A vida correria o risco de ser certa demais
Viveríamos num mundo chato
Onde a insensatez seria punida como crime hediondo
E todas as relações humanas seriam pautadas no equilíbrio.
Certamente teríamos maior longevidade
Pouparíamos mais dinheiro
E todos ou a maioria teria um carro novo.

Os casamentos durariam muito mais
A família... os filhos seriam o único objetivo
Valores como a religião pautariam nossa existência
A vida seria um mar de tranqüilidade.
Rodeados de sobriedade e comedimento
O pudor seria de novo exaltado
Como o estilo do homem civilizado.

Estaríamos preparados para o Juízo Final
Sem a bebida a vida entraria nos eixos
O mundo seria um lugar mais sensato... seguro
A alimentação sem os petiscos gordurosos e salgados
Traria como conseqüência uma dieta rica em nutrientes
Uma existência mais saudável
Mais completa... e menos humana!

Se a bebida fosse proibida
Haveria a desumanização do homem
A essência natural cairia em desuso
Em seu lugar iria surgir o super-homem
Ajustado para a moderação e o niilismo
Para a falta de emotividade e de altruísmo
Regidos pela perfeição
Pouco a pouco seriamos chamados de “deuses”.

Alguém aí quer ser Deus?
Uma cerveja, por favor!

joasvicente

domingo, 19 de julho de 2009

"DEPOIS DE TER VOCÊ"

Pensar em tua boca
No sabor delicioso de teus lábios
Na loucura que era o murmurar de tua voz.
Em toda aquela atmosfera de paixão
Que percorria a minha alma
Diante de tal imagem mágica.
Do ser mitológico que era você.

Lembrar dos teus olhos
Que invadiam depressa o meu corpo
Rasgando os últimos laços de sensatez.
Em toda aquela magia aterradora
Emergida num olhar profundo
Numa agonia intensa
Na entrega que era eu diante de você.

De como sentia na brisa o teu perfume
O cheiro que surgia nos ares
Dando sentido a toda a minha existência
Aromatizando com a fragrância do desejo
A minha vida vazia
O meu viver inútil
A minha essência triste e desesperada.

Saudades imensas de teu corpo admirável
De teu viver alegre e radiante
Da beleza inigualável nascida de teu sorriso.
Como as tardes... Noites e madrugadas...
Possuíam um brilho todo peculiar
Uma maestria suntuosa e colorida
Despertada pela tua presença.

Agora tudo é passado
As lembranças pouco a pouco se diluem
A vida vai perdendo a vivacidade
Restando guardados no recôndito do peito
A emoção primeira
A ilusão vivida
A rejeição terminal.

Estou sozinho
Diante desse amanhecer débil
De mais um dia infeliz que se anuncia
Dessa tarde longa... Deprimente
De mais uma noite obscura... Melancólica
Dessa madrugada sombria e enfadonha
Que revela minha impotência
Frente a essa dor atroz!

A dor de não mais ter você.

joasvicente

terça-feira, 14 de julho de 2009

TENHO DITO

Diante desse abismo todo
Dessa página em branco
Esse tédio lancinante
Retira do meu pensamento
A possibilidade de escrever.

Meus dedos insistem
Nessa aventura malograda
Nessa batalha inglória
Contra esse enfado instalado
Nas estalactites do meu pensar.

Essa caverna antes florescente
Iluminada pelas lanternas do poema
Experimenta nessa hora finda
O amargor dessa escuridão entediante
E o silêncio mórbido do vazio.

Busco as expressões simplórias
Como solução para essa desventura.
Os adjetivos comuns
As orações menos complexas
Os verbos mais usuais.

Qualquer lampejo de inspiração
Ou mesmo suor de transpiração
Mais não encontro nada!
As palavras são estranhas pra mim
Os textos... Um monte de rabiscos.

Como se por obra do divino
Nesse instante minha mente sofre de amnésia.
De um esquecimento involuntário
Dos termos pontuais
Das vírgulas... crases... reticências.

No obscuro da madrugada
Na penumbra transitória do dia que se anuncia
Almejo caído pelo chão algum escrito
Uma frase repetida
Ou um sentido qualquer para registrar.

Qualquer receita perdida
Ou bilhete deixado na estante
Quem sabe uma carta esquecida?
Preciso de um elemento qualquer
Onde a palavra seja decifrada.

Como as alternativas cessaram
Procuro então vocábulos nas melodias clássicas
Esquadrinho versos nos quadros renascentistas
Pesquiso discursos efusivos no silêncio mudo
Encontro poesias apaixonadas na chuva que cai.

Tudo vai se encaixando num livro encantado
Não fruto de inspiração ou transpiração
Simplesmente na magia do observar com os sentidos
Que na falta das palavras
Busca na desarmonia da vida
A razão de escrever.

joasvicente

sábado, 4 de julho de 2009

LUZES ACESAS

Esse luar que se vai
A luz tépida do amanhecer que se anuncia
O Sol que brilha timidamente no horizonte
Rasgando ao meio a penumbra da madrugada
E o meu sono profundo
Habitado pelo desejo intenso de você.

Sonhos dilacerados pelos raios do alvorecer
Meus olhos fechados
Teimam em buscar no afago dos lençóis
Na lembrança esquecida
De teu cheiro... De teu corpo
Da beleza que emerge como puro encanto.

O canto dos pássaros é cada vez mais estridente
A maestria da aurora é inaugurada
Os odores da manhã queimam as narinas
Toda a graça da noite... Da madrugada
Sucumbem frente a esse pragmatismo cotidiano
Que o dia estabelece.

Resta ainda o refúgio do quarto escuro
Das janelas fechadas
Desse frio matinal que a alvorada trouxe
E que o Sol pouco a pouco destroça
Tornando a alcova das ilusões mais ardentes
Um braseiro gélido de utopias.

Essa fresta no telhado
Uma luz horrenda que inunda o cômodo
É o sinal claro de que as aspirações febris
A ebulição do meu corpo apaixonado
Chegara fatalmente ao fim
Como um fósforo riscado na ventania.

Meus olhos abrem-se para a realidade
Minha alma repousa nesse dia habitual
Espera ansiosa pela noite...
Pela madrugada tão distante
Onde em sonhos encantados
Sonha em sonhar o teu sonho.

O ultimo bocejar
Os pés que buscam no chão o calçado
A ilusão acaba junto com a penumbra
Desperto para esse personagem diário
Que protege a minha verdadeira vocação
À noite... A madrugada... O sonho!

Sou um vulto inanimado
Que só revive nesse mundo imaginário
Onde reinam anseios ardorosos
Paixões delirantes
Devaneios arrebatadores
Só possíveis no recôndito das luzes apagadas
De madrugada!

joasvicente

sexta-feira, 3 de julho de 2009

ESSE RÉLOGIO QUE NÃO PARÁ

O meu interesse é o “é” da coisa
Ou a coisa do “é”
Num sei qual?
Esse sentido enigmático que não pode se tocado
Esse constante tempo
Que aprisiona a idéia
Esse sentir, que já se foi
Esse presente-passado.

O meu interesse é esse!
Prender por meros segundos
Essa agonia latente
Esse desespero passado.
Vontade de escrever bem rápido
E aprisionar o pensamento nesse exato segundo
Nesse angustiante presente
Que é mera ilusão no transcorrer do relógio.

Essa coisa de ser sempre do passado
Irrita-me de forma tamanha
Penso em descobrir um mecanismo qualquer
Em que esse relógio pare
Esse tempo pare
A vida entre em sentido contrário.
E tudo descompassado
Faça com que surja a explicação do que penso agora.

Vontade de romper esse sentido temporal
Buscar a essência do milésimo
Descobrir o ponto exato
Em que um segundo sucumbe frente a outro
A exata transição em que deixo esse ser de ontem
E inauguro esse novo ser
Que existe agora nesse segundo
Nessa ultima palavra que escrevo.

Se a palavra mudou, tudo tornou-se ultrajado
Se o minuto passou, tornou-se passado
Quero esse sentimento de hoje
Essa dor dilacerante de agora!
Diante desse impossível
As forças se diluem
Como águas passadas de um rio qualquer
E eu paraliso frente a essa humanidade irrisível.

Quero o é da coisa!
A essência primeira...
O gesto imediato...
O prazer depressa.
A circunstância atual...
O piscar dos olhos...
A palavra ultima...
A que se resume meu pensamento AGORA!

joasvicente

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O PRÓXIMO PASSO

“Qual o objetivo de tudo isso?”
Vi um sujeito perguntar aos berros
Enquanto levava as mãos à cabeça.
Enquanto enlouquecido esbugalhava os olhos
Que marejados
Deixavam rolar uma lágrima de desespero.

Diante desse grito sufocado
O sujeito entorpecido buscou refugio
Numa brisa leve que passava
Desviando-se dos prédios
E atenuou a face estremecida
Do sujeito que ousou perguntar
O sentido de tudo isso.

Pareceu providencial!
Aquele vento forte paralisou a cena
As mãos deixaram à face
As lágrimas presas no canto dos olhos
Escorreram pelo semblante.
O suor tépido inundou o sujeito
Que atônito e paralisado murmurou algo incompreensível.

A fisionomia do moço estarrecida!
O movimento da cidade
O barulho dos carros... Das pessoas...
Tudo em desalinho e Imóvel!
Como se a vida fosse interrompida
Nesses três ou quatro segundos em que eu observei o homem
E ouvi... Aquela frase estridente.

A decisão do homem sem sentido
Foi olhar pros lados na esperança de algo acontecer.
Uma voz... Um deus qualquer pra lhe salvar!
Um brado maior do que aquela brisa
Qualquer coisa lhe servia.
Nada aconteceu
A cidade seguiu a sua rotina.

Diante dessa desesperança.
Seu corpo pareceu inclinar-se
Como se fosse tombar!
Confesso que temi sua queda.
Mas ele equilibrou-se e entendeu de uma vez
Que o único sentido naquela hora
Era o próximo passo.

Que tudo se resumia ao movimento
Empregado entre uma perna e outra
Que a razão de ser humano é uma só...
Instintivamente ele mexeu os pés
Uma perna lançou-se para além da outra
O movimento!!!

Ele incorporou-se a paisagem da cidade novamente
Os carros... As pessoas... O barulho
Tudo tinha sentido de novo
A brisa que desviou-se dos prédios e o atingiu
Perdera força... As lágrimas secaram.
Ele que era o único sem sentido
Encontrou o seu,
Ser parte dessa paisagem.
Onde tudo funciona pelo movimento!

joasvicente

sábado, 20 de junho de 2009

CIVILIZAÇÃO

Preciso de uma loucura
Nesse exato instante
De uma grande loucura pra viver.
Uma visão avassaladora
Um desvario qualquer
Já é um alívio pra me sentir vivo
De novo!

Pensar em nada
Não sentir nada, nem ninguém
Preciso de uma loucura que não me faça pensar
Não quero pensar em nada
Quero uma loucura, apenas...
Uma loucura
Pra não morrer...

Quero a essência do instinto
Esse animal domado que reside em meu peito
Quero a insensatez como guia
O acaso como objetivo
Quero o desatino
A completa insanidade.
Almejo a loucura!

A volúpia... O desejo...
Quero esse cerne da existência
Sentir apenas o vento batendo no corpo
Nessa alma nua de sentimento
Despudorada de juízo...
De razão
Inerte a qualquer dor!

Rasgar o peito como se me libertasse
Dessa atroz prisão da consciência
Ser selvagem entre a ilusão e a realidade
Ser o encontro entre a pulsação e a continuidade
Quero o sabor dessa ambição
Entranhada em meu corpo débil
Em minha alma vazia.

Quero enlouquecer!
Compreender esse ser endoidecido
Que mora em mim
Habita meus sonhos mais íntimos
Vive no limite de minha sanidade
No vazio desse reles espectro
E é freado pela voz da Civilização.

joasvicente

segunda-feira, 15 de junho de 2009

PESADELO

Esse frio que entra pela janela
Nessa escuridão que engole a noite
A chuva no telhado
Esse você em minha cabeça.

Como uma lembrança constante
No meu corpo trêmulo
Nos meus olhos distantes
Nessa falta que você me faz.

Não sei se a madrugada vai acabar
Num sei se acabo na madrugada.
Nessa loucura toda
Num desvairio alucinante
Nessa cama gélida.

Sou eu
Esse ser estático... endoidecido
Com todas as dúvidas
Todas as certezas
Sem nenhuma conclusão.

A luz tênue da manhã
O canto longínquo dos pássaros
Essa aurora que não brilha
Essa dor que não cessa
Como num pesadelo infinito.

Essa agonia que me faz revolver
Nessa cama desforrada
Nesse quarto úmido
Embaixo desse cobertor gelado
Como uma angústia sem razão.

Pouco á pouco
As coisas parecem readquirir o sentido
O cheiro do café
O relógio que desperta
O barulho dos carros... Das pessoas
Servem como alento para acordar.

Entretanto
Você continua lá como uma marca
Como um sonho em minha cabeça
Que não pensa... Que não acorda
E nem tão pouco dorme
Vive pra você.

Preciso acordar!

joasvicente

quinta-feira, 11 de junho de 2009

ESSE "EU" ESCONDIDO

Essa pessoa que fui eu
Aflora-se como uma tempestade
Numa tarde de Sol
Num dia claro que sucumbe
Frente ao negrume das nuvens.

Esse eu que se negou
Levanta-se com toda altivez
As pequenas coisas
Os gestos mínimos
Nesse passado presente...
Tão distante.

Cada dia fica mais claro
O desejo de conhecer-me de novo
Sem esses atuais dilemas
Sem essas filosofias vãs
Essas indagações inúteis.

Quero a essência minha
A simplicidade suburbana
A conversa na esquina
O flerte das moças todas.

Quero esse “eu” escondido
Em todos os livros da estante
Em todas as músicas requintadas.
É hora de jogar tudo isso fora
Jogar esse EU fora
Esse que nem sou eu.

Preciso reconhecer-me novamente
Preciso!
Como parte desse nada
Dessa vida toda
Que não vale nada
A não ser pra esse EU escondido.

joasvicente

domingo, 31 de maio de 2009

CARPE DIEM

Essa alma presa nesse corpo vão
Nesse não sentir diário
Nessa vontade de não ser nada
Como uma ave cansada
Que alça vôo em um imenso deserto
Assim são os dias para mim.
Arrastam-se como uma agonia latente
Como uma dor irremediável.

Esse tic-tac desse relógio
A folha desse calendário que é virada
São atenuantes para esse tédio permanente
Para essa vida aprisionada
Para esse nada que é a existência.

Esse comprido caminho
Entre o primeiro suspiro
E a dor lúgubre da morte.
Entre a inocência não tão inocente
E a angústia do envelhecer.

Odeio a vida e seus momentos longos
Quero a brevidade
Quero o minuto!
O sabor do beijo roubado
O gosto da primeira ilusão
O dissabor da rejeição!
Quero os sentimentos fugazes
A paixão repentina
O orgasmo intenso e rápido
Quero o agora!

Quero tudo hoje!
Nesse exato instante
Em que troco de linha nesse texto enfadonho
Nessa confusão toda
Que as pessoas chamam de poesia.

Quero tocar nesse exato instante
Sentir a intensidade desse presente
Dessa vida de hoje
Dessa agonia de hoje
Nessa vontade de me perder
Dessa vida sem sentido e inútil.

Quero o já!

joasvicente

terça-feira, 7 de abril de 2009

PRA OLHAR O TEU OLHAR

Ontem olhei o teu olhar
Venci esse medo
De perder-me nesse olhar belo
E intenso.
Prestei atenção
em cada traço... contorno
Gesto do teu rosto.
Percebi que a beleza dele
Está na sutileza de teus olhos.
Que dizem tantas coisas
Que tenho medo de ouvir
Por isso sempre o evito.

Mas ontem
Ontem não teve jeito
Depois de tanto tempo
Depois de tanto temor
Percebi que chegara a hora
De me prostrar
diante de beleza tão bela.

Tentei até desviar-me
Mas você olhou de relance
Tanta preparação
E como se o destino
Traçasse esse momento mágico
Olhei o teu olhar.

Os meus olhos perderam-se
Enxerguei você inteira
Vi a delicadeza de sua boca
O gosto suave de teu corpo
A vontade de me inundar no teu cheiro
No sabor de tua pele
No ardor de teu desejo

Vi tudo isso
Pelo teu olhar
Que deixa surgir na noite
Esse brilho... esse mistério
Esse encanto encantado
Que é você


joasvicente

NA LEMBRANÇA

Pra você eu guardei
Teu beijo em minha boca
O sabor diferente de teus lábios
Guardei em meus dentes
O gosto molhado do teu desejo.

Guardei o que nunca foi meu
A ilusão, deixei no peito
O abraço de teu abraço
Essa vontade de não ser eu.

Pra você eu guardei
Uma palavra indecifrável
Presa na garganta
Ou na ponta da caneta
Guardei você nas páginas de um caderno

Guardei-te no bocejar
Das horas mais findas e longas
Nessa noite intensa e escura
Nesse poema doído, triste, com sono.

Pra você eu guardei
O teu perfume em meu corpo
Até o que nunca foi meu
Guardei...
Guardei na lembrança
Você em mim.


joasvicente

E O SOM DE DEUS

O momento é agora... é já
De uma urgência imensurável.

O segundo que trilho
Entre uma palavra e outra
É o bastante para que tudo o que foi dito
Não tenha mais sentido algum.

O que se escuta,
Jamais pode ser ouvido de um mesmo modo,
O sabor de um beijo,
Um afago dado,
Jamais é o mesmo duas vezes.

A vida é essa aventura,
A cada minuto
Deparamos-nos com essa outra pessoa
Que não somos nós.
Como num intervalo entre o que se foi,
E o que se deseja ser
Nesse minuto adiante.
A atrocidade do tempo é essa,
Só percebemos a importância do hoje,
Amanhã.

A vida deve ser entendida,
Como um lapso,
Um ponto de luz,
Um instante passageiro
Que se chama “agora”,
Sem metafísica alguma.

Talvez se pudéssemos voltar pra aquele momento
Crucial de nossa existência,
Creria na origem divina dos homens,
Fora isso,
O dia-a-dia é apenas uma angustia cotidiana,
Que fica na lembrança.

Aquele olhar,
Aquele primeiro toque
Aquele beijo.
Tudo tomou dimensões diferentes,
Os solavancos não são mais possíveis,
A vida fadou esse instante
A uma bela história
De um amor antigo e inútil.

Queria por um momento
Menor que fosse,
Sentir toda a ebulição
Que aquela visão provocou em mim
Há tantos anos atrás.
Mas que foram sucumbidas
Pela atrocidade do tempo.
Por essa limitação humana.

A saudade é uma maldição
Imposta pelos deuses
Para que jamais pretendêssemos a perfeição
Resta a dor,
O silêncio
E o som de Deus.

joasvicente

quarta-feira, 18 de março de 2009

VOCÊ NO TELEFONE

E esse telefone que não toca?
E essa noite que se esvai?
Diante do pensamento permanente em você.
Minha vida
Resumida a esse aparelho frio,
No canto da sala vazia
Dessa vida vazia
Desse tempo vazio.

Meu olhar
Não busca tua imagem
Nem meus ouvidos
O sussurrar de tua voz.
Quero apenas ouvir
O toque desse telefone.
Tua voz...
Tua imagem...
Não serão apenas lembranças
Se tornarão em mim
Desejo... só desejo!

Engano!
Ainda assim
O tocar do telefone
Faz com que a tua presença
Não se perca de mim.
Pois sempre deixa-me
A ilusão de você no telefone.

Prefiro a fantasia
A essa vida vazia
À esse tempo vazio
A essa falta
Que causa-me
Não pensar em você.
Em você no telefone.

joasvicente

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DIAS DE JANEIRO!

As segundas-feiras intermináveis
Onde o cheiro de papel novo
E de tintas de impressão
Impregnam essa sala
Tão cheia de gente que nem se conhece
Ou se conhece apenas nesse tédio
Irremediável.
Gente com sentido sabe?

Esse barulho ensurdecedor
Essa ladainha irritante
Queima-me os típanos
E torra-me a paciência.
Odeio essa gente
Que sou obrigado a dar atenção
E a render congratulações.

Dias infamemente chatos
Longos e monótonos
Junto a esse povo
Pra quem a vida é apenas isso
Um escritório...
Uma crença desesperada...
Uma vida de Domingo.

Sabe o Domingo à noite?
Dormir cedo... levantar cedo?
Acordar disposto?
E perceber que a vida é uma droga!
Que a segunda vai chegar de todo jeito
E minha irritação estará prometida
Como uma profecia qualquer.

Nesse universo chato
Nessa vida de Domingo
Sem tragos de encanto
Minha vida adaptou-se a tudo isso
Esse eu que escreve agora
Usa como única alternativa... o texto
Como saída para esse existir
Frio e gélido em que se transformou
A segunda-feira.

joasvicente

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

SOU SOZINHO!

Essa sala vazia
Esse “eu vazio”
Essa vontade de ser artista
Um personagem qualquer
Nesse tédio viciante
Chamado “a vida da gente”.

Mas que vida?
Mas quem é gente?

Esse silêncio ensurdecedor
Rompido vez por outra
Pela saliva que mata-me a sede
Ou pelo pensamento
Que encontra refúgio na palavra
Escrita ou descrita como antidepressivo.

Nessa sala vazia
Nem o vento se faz presente
Tudo é monótono
Tudo é superficial
Como as horas de um relógio qualquer
Ou as datas de um calendário
Que insistem em dizer-me
Que hoje é terça... ou quarta... ou quinta-feira.

O que vale-me saber disso?
O que vale essa odisséia delirante
Se os momentos não se eternizam
E o calendário é mero suvenir
que me lembra que tudo passado?

Ah, e esse “eu” aqui
Sozinho... Perdido
Viciado em depressão
A quem todas as dores pertence?

Em quem a angústia e a melancolia
Tornaram-se companhias inseparáveis
Nessa jornada longa...
E inútil.

joasvicente