sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

SEGREDO

Secretamente amo-te.
Com a intensidade da distância que nos oprime
Esse trajeto entre o sonho e a realidade.

Você é esse sonho encantado
Que vez por outra traz uma alivio
Nessa realidade cotidiana e irrisivel.

Esse sonho secreto
Embalado por suores tépidos
Por sussurros de desejo
Que desfaz-se diante da falta de você
Diante do amanhecer.

Você é esse segredo na penumbra desse quarto
Na suavidade desses lençóis
Nesse cheiro de teu perfume
Nesse gosto de tua boca

Nesse monólogo indecifrável
Que se cessa
Ao fim desse sonho
Ao começo desse dia
Nesse não existir.

joasvicente

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

SIMULAÇÃO

Eu...
Um reles burocrata
Como posso pretender entender a alma humana?

Para mim...
Que não entendo nem o que faço
Nessa tardes infinitas;
Para quem tudo é papel...
Números... notas
Não entender é entender.

Então...
Seguindo sem entender.
Debruço-me sobre este papel
Nesse ambiente inóspito
Sem desejos ou aspirações
Sobre que abismo é esse
A alma humana?

As frias notas
Têm tão mais significado pra mim
Do que a alma humana!
Porque as entendo
Ou simulo entendê-las
nem sei bem
O que é entender
ou o que é simular?

Sei tanto dessas notas
Papeis... números... gráficos
Que às vezes penso
Que tudo é alma
E simulo entender sempre!

Nesse instante
Prefiro a ilusão ao entendimento.
Talvez...
O que me instiga na alma humana
Seja isso:
Essa similaridade com as notas
Essa simulação de entendimento
Essa ilusão permanente.

É tanto sentir
Que nem sinto mais.
Tudo se tornou tão comumente incompreensível
Tudo...
Que tudo é alma
Só alma.

joasvicente

O QUE É SENTIR?

- O definhar dessas tardes,
O cansaço dessas noites mal dormidas,
Essa febre da saudade

- Essa vontade de me tornar esse sopro auditivo,
Que me sussurra palavras,
Signos sem sentido ao toque do telefone.

- Eu te quero agora!
- Perto de mim.

- O mundo inteiro
Todas as palavras
Resumidas em uma frase tão simplória.
"ME AMA".

- Você é como um cheiro em mim,
Uma identidade só minha
Invadindo-me... decifrando-me...
Desde a ponta dos meus cabelos,
Até a fundura do meu intimo.

- Pensar em você é como um perfume
Usado pela manhã,
E que ainda a noite é sentido na camisa pendurada,
No corpo suado.

- Pensar em você é como a crença dessa gente toda,
Que ao fim do dia acredita nos deuses todos,
Na humanidade, no valor da existência
Quando sei que os deuses e a humanidade não existem
E que a vida já não vale à pena!

- Nesse fim de tarde,
Em frente a esse mar todo
Longe-perto dessa alienação geral
Quero desejar o desamor
Mas não consigo

Desejo você.

joasvicente

sábado, 15 de novembro de 2008

"QUEM SABE ALÉM DO ESPELHO!".

O que é essa imagem aí presa no espelho?
Nessa prisão enclausurada.
Nessa gélida e silenciosa representação
Que é “nós mesmos”?

Quem é essa pessoa
Que atreve-se a atever-se em minha frente?
Em frente a esse “eu”
Que eu quero ver
Ou às vezes nem quero
Mas vejo
E está sempre lá silencioso
Como um discurso eclesiástico.

Essa relação com o espelho...
É sempre de mim para alguém que conheço
E desconheço...
E conheço...
E desconheço.

Essa pessoa que me olha e não fala
E fala tanto quando o seu olhar penoso
Adentra-se na minha alma débil e inútil.

Essa pessoa que sempre quis ser
Mas que às vezes percebe-se apenas
Como uma imagem no espelho

Sem alma... sem animo
Sem mim mesmo.

Como uma construção não acabada
Como um filme que no limiar do entendimento
Acabou a luz
A tela ficou cinza
Ficou apenas
Esse reflexo meu no espelho.

Esse “eu”
Que nem sou eu
Mas que no espelho
Burla a realidade.

joasvicente

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

DEPOIS DO AMOR...

Depois do amor
Da paixão avassaladora,
Do desejo supremo
Ficamos eu e você
Como uma coisa que se misturou tanto
Que se tornou uma só partícula
Um só elemento.

Nossos corpos suados
Tornaram-se uma coisa só
Os cheiros... os sussurros
Se confundem na luz inebriada
Que vez por outra ilumina as faces estremecidas
Diante de tamanha volúpia.
Os beijos molhados... os toques desesperados
O sabor da pele nua
São marcantes naquele quarto... naquela cama.
Toda a atmosfera respira a intensidade despida entre lençóis
Entre afagos e beijos permanentes.

Ontem
Desfiz-me dessa figura enigmática
Que desconheço
Assumi essa personalidade minha
Que só se consolida plenamente
Na tua boca...
No teu corpo...
No sussurrar de tua voz
Na intensidade de tua totalidade minha.
Fiquei torcendo para que o relógio parasse
Que um poder mágico qualquer
Sucumbisse essa atrocidade.

Não teve jeito!

Os ponteiros me odeiam
Cada volta teve uma velocidade inimaginável
Os segundos se sucederam freneticamente
Um após o outro
O espaço entre o começo e o fim daquela noite
Foi cada vez mais se encurtado
restou o fim, da noite... do caso... de mim mesmo.

Hoje
Acordo e encontro
Novamente essa pessoa que desconheço
Esse “eu enigmático”.
No banho...
Resta um sorriso no canto da boca
Um suspiro de saudade
Uma vontade enorme de que tudo recomece.

O café
O ultimo olhar no espelho...Os óculos escuros
Escondem-me dessa minha vida cotidiana e irrisível.
A luz da manhã, retira o meu ultimo sorriso
Penso na noite... no nosso encontro tão perto
E tão distante.
Nessa vontade enorme
de me sentir eu de novo...
nos teus braços.

Depois do amor
Resta a saudade no dia seguinte
A ilusão do reinicio
A busca pelo ultimo beijo
O arrepio da ultima carícia
O devaneio do teu corpo misturado ao meu.

Depois do amor
Ficam as marcas da noite passada
O cansaço nos olhos perdidos
O cheiro na camisa pendurada
Fica você em mim
Com toda a loucura... sutileza
E necessidade de que aconteça de novo

Eu imploro!

joasvicente

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

SEM PALAVRAS

Quando a solidão
É a unica alternativa
Crio algo para me acompanhar
Nessas noites frias
Nos tumultos intensos...
A palavra é sempre minha companheira fiel.

Quando os termos me fogem do pensar
Surgem no papel
Vírgulas... pontos finais, exclamações;
Admiro-as tanto
Tão belo o seu entonar
A delicadeza com que separam os sentidos...
Os sujeitos... as orações.

A paixão é mais intensa no texto escrito
Onde a atenção do leitor viaja
Nas asas do detalhe
Na suavidade delineada dos corpos
No ardor de cada sussurro...
De cada toque
De cada beijo.

O texto... O texto!

Adoro tanto a palavra
Que pretendi criar um alfabeto
Só pra mim.
Para compreender o texto sozinho
Num universo solitário
Egoísta... só meu!

Mas a função do texto é criar
Não em quem escreve
Mas em quem lê
Todo esse encanto do imaginar.
Um alfabeto só meu
Um segredo só meu
Mas qual a função da palavra
Do segredo senão ser decifrado?


Pistas devem ser criadas
Traços comuns que deixem claro
A vontade de quem escreveu de ser descoberto.
A função da palavra é essa
Possibilitar a quem lê a descoberta
Desse universo criado pelo autor.
Ou ao menos imaginar.

A vida inteira registrada não numa imagem
Mas num texto
É tão mais convidativo.
A vida permeada de sílabas...
Crases... reticências
É tão mais significativa do que é de fato.

A vida de qualquer individuo
Torna-se a aventura mais surpreendente
O ato mais notório...
A virtude mais virtuosa.

As linhas de um texto
Os parágrafos e interrupções
Criam esse ar deslumbrado
Essa realidade fictícia e parcial;
Esse tempo irreal
Essas figuras tão familiares...
Essa vontade de entrar num cenário
E viver a intensidade de cada personagem.

A palavra... a palavra!

joasvicente

domingo, 2 de novembro de 2008

"EU QUERO A SORTE DE UM AMOR TRANQUILO!"

- Ouvi isso! Era o Cazuza.

A ilusão atrai, é verdade
Mas sabe aquela vontade de ficar quietinho
Desejando que a paixão
Com todos os solavancos
Esqueça da gente?

Pois esse é o meu momento.
Preciso de mim
Mais do que tudo!

Essas ebulições todas
Requerem todo o tempo do mundo
Para começar e também para esquecer.
Não tenho mais todo esse tempo
Preciso de mim.

Fora!
Com as agitações febris
Com as torturas de saudade
Com o arrepio das rejeições.

Quero a sorte de um amor tranqüilo!
Mas só quero isso
Depois de hoje à noite
Depois de todos os teus carinhos
Depois de todas as tuas carícias
Depois de hoje,
Quero só tranqüilidade.
Juro que quero!

Hoje quero toda a plenitude
Que o teu amor possa me dá.
Quero todas as delícias
Loucuras e sussurros apaixonados.

Hoje, eu quero todos os gritos, ais...
Hoje eu quero você.

Amanhã...
Outra pessoa assumirá minha personalidade.
Alguém não tão carente
Não tão teu.
Que certamente salvará a minha pele.
Mas hoje...
Quero morrer em teus braços.

Sentirei saudade desse hoje
Dessa noite,
Desse prazer
Dessa entrega toda
Dessa loucura que somos juntos.

Sentirei a falta desse calor intenso
Permanente
Que queima com o calor de teu desejo.

Eu quero o teu ar...
Quero o gosto de tua boca...
A delicadeza de teu olhar...
A suavidade de tua voz
Que me diz tantas coisas
Das quais quero ouvir todas,
Uma a uma...
Nesse hoje tão pouco que me resta.

Prometo dedicação total
Com teu corpo...
Com teu ser. Hoje a noite
Serei teu...
Só teu!
Com toda intensidade
Que a minha alma nem tem
Com a perfeição propicia dos deuses todos...

Ah quem dera essa noite...
Essa madrugada
Essa vontade de você
Adentrasse na eternidade
Com todos os despropósitos
Com todo ardor e altivez
Típicos de um sonho.

Quero esse sonho todo dia
Imaginar que o teu perfume
Impregnará sempre a minha camisa
O meu corpo...
O meu espírito.
Quero a tua essência.

Tudo isso
Nessa noite sem luar
Que não chega
E na verdade
Nem sei se quero que ela chegue.

Medo?
De não ter mais com o que sonhar
De não ter mais essa imagem bela
Que habita os sonhos apaixonados.

Não quero essa noite
Temo o Sol... a alvorada
Se ele nascer
Não existirá mais essa noite

Você se perderá
No ultimato da tranqüilidade.

Prefiro sonhar!
Prefiro você
Nesse sonho,
Nesse eu
Só teu.

Prefiro você
Presa na possibilidade
A não te ter amanhã.

Melhor a ilusão...
A idéia...
Os arredores!

A essa noite...
Ultima...

joasvicente

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O SILÊNCIO...

Cadê você?
As palavras se calaram
Se negam a falar do intenso pesar
Da vontade de me perder completamente
Para quem sabe num sonho louco qualquer
Encontrar-me com essa delicia
Que são os teus beijos
O teu corpo... o teu cuidado!

Os poemas
Os versos de amor se dissiparam
Como um raio dantesco
Nas noites sem luar
Cortando o firmamento da paixão
Com dor... angustia
Ressentimento e desilusão.

Restaram às lembranças
O afago da tua imagem
Que vez por outra
Salta diante dos meus olhos
Num delírio insano e profético...

Restou o teu cheiro
Na minha pele
O odor que mistura desejo e saudade
Que me faz viajar
Nas brisas fugazes de teu amor...

Restou o teu rosto gravado
Como um altar onde dia após dia
Sinto mais forte a necessidade de você.

Restaram as flores
Amassadas...
Jogadas pelo caminho
E recolhidas uma a uma
Pétala por pétala
Pelas lágrimas ...
Que vez por outra rolam face abaixo
Escondidas no canto do rosto
E entre os soluços desvairados.

Hoje
Olhando de tão longe quem fui
Lembro com nostalgia até das dores infindas
E das noites em claro
E dos desesperos latentes;
Como se cada minuto
De tanta agonia valesse à pena,
Porque nele estava você.

Hoje
Um vazio corre em minhas veias
Um vácuo gélido
Inundado pela neblina da solidão.
Essa escuridão de não sentir
Que faz com que grite no nada:
Cadê você?

Mas essa pessoa que sou hoje
Esse mensageiro
Que sente tudo indiferente
Não compreende mais esse ardor passado
Eternizado e inútil!

Ficaram as lembranças
Que nem mais percebo
Porque essa pessoa que sentiu tudo
Que viu tudo... se calou
As palavras silenciaram.

joasvicente

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PERFUME

O que é o tempo para que pensemos nele?
O que é a vida para ser pensada?
Certamente todas as respostas se anulam
Nessa filosofia antiga e inútil.

O tempo é essa sucessão de vida
Que só tem significado quando vira lembrança
Quando o Sol das circunstâncias, do equivoco
Tornou-o apenas uma brisa de saudade

A vida é essa sucessão de tempo
Mal compreendida, ignorada, não vivida
É esse eterno sentido sem sentido
Que quando há sentido, perdera o sentido

A vida é como um perfume lançado nos ares sobre toda gente
Alguns sentem, mas passam sem dar importância
Outros se encantam e param para senti-lo
Mas há os que se deixam perfumar.

O tempo é o que se faz com esse perfume
Alguns sentem e não dão importância
Outros se encantam e param
E há os que se deixam perfumar.

joasvicente

DESCONHEÇO-ME!

Espera-me aí, na janela
Onde o luar possa te abraçar
Com todos os meus abraços!

Eu sou esses raios límpidos
Essa brisa suave...
Essa noite que não se encerra.

Eu sou essa vontade
De te sentir como em pequenos goles
Em sutis toques...
Em alucinados devaneios.

Quem sou eu
Quando você me espera na varanda?
O que é a verdade pra mim
Que sempre me desconheço
Quando o teu cheiro surge nos ares?

Quando a tua imagem surge nesse sobrado
Nessa noite... nesse luar?
Nesse mundo todo
Que só sinto quando vejo você?

Talvez
Seja apenas essa palavra
Sem nome... sem pronúncia.
Amaldiçoado pela saudade
Pela falta... pela perda
Pelo teu amor!

Melhor não me encontrar
Assim, posso viajar
Nas asas dessa dúvida permanente
Que açoita-me todas as noites
Quando não te vejo na janela
Na varanda... no sobrado
Em mim!

Nem sei se quero você.
Nem sei se quero te ver.
Sei tão pouco.
Apenas sinto.

Melhor desconhecer
A tradução dessa loucura
A sanidade desse sentir
Do que afogar-me
Nas águas claras do entendimento
E não ter você

joasvicente