A casa velha que carrego dentro de mim, com três pequenos cômodos e um quintal grande, onde em todas as tardes, a vida parecia ter sentido. Poucos móveis... Muito silêncio, quebrado vez por outra pelas brincadeiras dos primos todos, que invadiam aos berros, os minúsculos corredores, naquelas tardes-noites da velha casa de minha infância.
A porta da frente... A janela ao lado... As palmeiras na varanda... O velho muro! Nem sei se existiram de fato, mas vivem dentro de mim, como uma invenção minha de um passado meu, onde perpetuava-se a alegria de ser criança e não entender as coisas como as entendo hoje. Onde reinava a ilusão de que a vida não passaria, e o mundo era tudo aquilo que eu via... Que eu tocava, que eu sentia e que eu não sinto mais.
A geladeira velha, a jarra no canto da cozinha, a aurora que se anunciava pelas frestas das telhas, os tios reunidos em torno da mesa, as toalhas coloridas, onde serviam-se coisas tão saborosas para aquele meu paladar juvenil. Pouco a pouco, cada primo atravessava aquelas cortinas esvoaçantes que demarcavam a extensão dos quartos, as redes eram recolhidas, os lençóis forrados sobre colchões duros de capim, aquele cheiro primeiro de felicidade que nunca mais encontrei em mim, emergia com vigor, realçando a minha alegria de menino.
O sabor das frutas, que nem sei ao certo se provei, mas que guardo escondido em minha boca, como uma ilusão de moleque. A água barrenta nos potes que se aglomeravam sobre a prateleira, o arrastado do chinelo no piso de chão batido, o cheiro de terra no ar... A fumaça do fogareiro no terreiro, o banheiro escondido num cubículo por trás da casa principal, tornam-se lembranças de um tempo em que à beleza existia, porque eu a via em tudo que me cercava, sem ser um plano vindouro.
A rua em frente, o rêgo que corria de um lado pra outro, como se o mundo inteiro coubesse naquela travessa sem saída, naquela alameda minúscula, que meu coração idealizava como imensa. O cheiro de fumo no ar, oriundo de grandes baforadas do cachimbo do velho avô... as reclamações dos vizinhos... as conversas de fim de tarde em todas as calçadas daquela pequena vila.
Tudo isso são lembranças minhas, que compartilho nesse texto pra não esquecer, de onde eu vim e quem sou eu, nesse universo tão imenso, de tantas possibilidades, mas que em mim poderia resumir-se àquela velha casa de minha infância, onde eu era feliz, porque nunca pensava no que era começo, no que era meio, no que era fim. Porque não entendia ao certo o que é felicidade, por isso era feliz.
joasvicente
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
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