sábado, 15 de novembro de 2008

"QUEM SABE ALÉM DO ESPELHO!".

O que é essa imagem aí presa no espelho?
Nessa prisão enclausurada.
Nessa gélida e silenciosa representação
Que é “nós mesmos”?

Quem é essa pessoa
Que atreve-se a atever-se em minha frente?
Em frente a esse “eu”
Que eu quero ver
Ou às vezes nem quero
Mas vejo
E está sempre lá silencioso
Como um discurso eclesiástico.

Essa relação com o espelho...
É sempre de mim para alguém que conheço
E desconheço...
E conheço...
E desconheço.

Essa pessoa que me olha e não fala
E fala tanto quando o seu olhar penoso
Adentra-se na minha alma débil e inútil.

Essa pessoa que sempre quis ser
Mas que às vezes percebe-se apenas
Como uma imagem no espelho

Sem alma... sem animo
Sem mim mesmo.

Como uma construção não acabada
Como um filme que no limiar do entendimento
Acabou a luz
A tela ficou cinza
Ficou apenas
Esse reflexo meu no espelho.

Esse “eu”
Que nem sou eu
Mas que no espelho
Burla a realidade.

joasvicente

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

DEPOIS DO AMOR...

Depois do amor
Da paixão avassaladora,
Do desejo supremo
Ficamos eu e você
Como uma coisa que se misturou tanto
Que se tornou uma só partícula
Um só elemento.

Nossos corpos suados
Tornaram-se uma coisa só
Os cheiros... os sussurros
Se confundem na luz inebriada
Que vez por outra ilumina as faces estremecidas
Diante de tamanha volúpia.
Os beijos molhados... os toques desesperados
O sabor da pele nua
São marcantes naquele quarto... naquela cama.
Toda a atmosfera respira a intensidade despida entre lençóis
Entre afagos e beijos permanentes.

Ontem
Desfiz-me dessa figura enigmática
Que desconheço
Assumi essa personalidade minha
Que só se consolida plenamente
Na tua boca...
No teu corpo...
No sussurrar de tua voz
Na intensidade de tua totalidade minha.
Fiquei torcendo para que o relógio parasse
Que um poder mágico qualquer
Sucumbisse essa atrocidade.

Não teve jeito!

Os ponteiros me odeiam
Cada volta teve uma velocidade inimaginável
Os segundos se sucederam freneticamente
Um após o outro
O espaço entre o começo e o fim daquela noite
Foi cada vez mais se encurtado
restou o fim, da noite... do caso... de mim mesmo.

Hoje
Acordo e encontro
Novamente essa pessoa que desconheço
Esse “eu enigmático”.
No banho...
Resta um sorriso no canto da boca
Um suspiro de saudade
Uma vontade enorme de que tudo recomece.

O café
O ultimo olhar no espelho...Os óculos escuros
Escondem-me dessa minha vida cotidiana e irrisível.
A luz da manhã, retira o meu ultimo sorriso
Penso na noite... no nosso encontro tão perto
E tão distante.
Nessa vontade enorme
de me sentir eu de novo...
nos teus braços.

Depois do amor
Resta a saudade no dia seguinte
A ilusão do reinicio
A busca pelo ultimo beijo
O arrepio da ultima carícia
O devaneio do teu corpo misturado ao meu.

Depois do amor
Ficam as marcas da noite passada
O cansaço nos olhos perdidos
O cheiro na camisa pendurada
Fica você em mim
Com toda a loucura... sutileza
E necessidade de que aconteça de novo

Eu imploro!

joasvicente