terça-feira, 17 de novembro de 2009

NO ESPELHO

A agonia da loucura que chegara tão perto de mim
Se foi como um raio num dia de verão
Deixando marcado como lembrança
A doce e lancinante insensatez.
Ficou em seu lugar
Esse sujeito politicamente correto
Acostumado a essa normalidade tão habitual.

A vida passa como um relógio parado
Os odores selvagens e febris
As impressões dolorosas e revigorantes
Os desatinos ao acaso... de relance
Desapareceram fortuitamente
Como parte de um encanto qualquer.

A melancolia e as dores juvenis
Ofuscaram-se em definitivo.
Os dias tornaram-se monótonos
E o corpo é um vão vazio
Onde o dissabor da desilusão
E a penumbra da indiferença
Trancaram-me comigo nesse quarto frio.

As lembranças pouco a pouco se esvaem
Essa assombração que sou hoje
Sente a existência como constrangimento
E caminha sem interesse
Moído pelo tédio e pelo enfado
Rumo a essa noite escura
Sem o candeeiro da alucinação.

Quero loucura nessa vida nada
Um gostinho ardente de insanidade
Que traga de volta os despautérios do improviso
Nesse frio gélido e inóspito
Que se transformou esse espectro sem vida
Que reconhecido no espelho
Teima em me chamar pelo nome.

Esse não sou eu!
É apenas uma imagem inverossímil
De uma realidade relegada a um devaneio.
O despertador logo... logo anunciará o dia
E o engodo da covardia fugirá de mim
Recomposto desse pesadelo aterrador
Abrirei os olhos para essa realidade repentina
E serei eu novamente!

joasvicente

DESCUIDO!

Diante desse desejo louco que ressurge em mim
Paira uma ebulição de paixão
Como uma vontade insana de me descuidar.
Passa distante de mim esse espectro aterrador
Que hipnotiza-me por completo
Com suavidade... pavor e beleza.

Meus olhos prostrados diante de tamanha formosura
Saciam por um mero instante
Esse incômodo perpétuo de visão tamanha encantada.
Que passa sorrateiramente pela janela
E deixa em meu pensamento
A ilusão do próximo encontro.

Como um imã de intenso magnetismo
Minha alma é compelida a deixar o meu corpo
Meus olhos cheios de temor
Padecem de uma doença sem explicação
Que deixa marcada em minha alma
A dor de você passar e eu te olhar.

Certas vezes busco esse olhar em outros olhos
Mas só enxergo essa vivacidade tua
Nessa face iluminada
Que infamemente não é minha
Mas que roubo-a de te
Nesses teus raros momentos de descuido.

Descuida-te senhora!
Passas lá no caminho da estrada
E deixa o teu cheiro nas brisas.
Deixa esse encantamento encantado
Como um aroma exalado de teu corpo
Envolto nessa penumbra que é o meu pensamento.

Perde-te nos meus olhos
Nem que seja de relance... ao acaso
Dá ao meu peito essa ilusão ultima
De te imaginar minha sem o ser.
Não desvia-te de meu olhar
Descuida-te!


joasvicente