sábado, 1 de agosto de 2009

ODE A BEBIDA!

E ainda perguntam por que as pessoas bebem
Atribuindo a esse ato tão sacro
O título sóbrio de vício.
Só uma dose... um copo... um trago
Pode devolver a dignidade de um sujeito
Que em plena sexta-feira lembra de sua condição
De escravo dentro dessa selvageria denominada “mercado”.

Garçom, uma cerveja por favor!
Esse é o grito de rebeldia
Que ecoa como um hino eclesiástico
Como uma opereta italiana... uma comédia musical
Em todos os recantos do país
Desde os bares da moda dos bairros requintados
Aos botequins de beira de calçada.

Do mesmo modo bebe-se
Na busca de sentir em pequenos goles
O ardor febril da vida difícil
Da insatisfação latente
De toda essa humanidade incompleta
Que é criada para o sucesso
Mas desde cedo se reconhece imperfeita.

Salve os copos de quem beberica
Salve os discursos eufóricos
Típicos dos sujeitos que se vêem inacabados
E partilham da suprema arte do primeiro gole.
Salve os debates sobre futebol... mulheres... arte
Fieis acompanhantes da erudita sensação
De ver a vida sob uma ótica ébria.

Sujeitos se aglomeram em torno do liquido divino
Como parte de uma seita secreta
Compartilham de um mesmo cálice sagrado
Participam como numa espécie de iniciação
Almejando o título máximo
O esquecimento... a emotividade
O ultimo gole de sensatez.

E os tímidos... os tristonhos de alma?
O que seria desses sujeitos?
O que seria da vida sem o porre providencial
Sem a conversa sem nexo
Sem o levantar a mão ao ouvir a música favorita
Sem essa aura toda que a bebida inaugura
E a gente se deixa levar?

A vida correria o risco de ser certa demais
Viveríamos num mundo chato
Onde a insensatez seria punida como crime hediondo
E todas as relações humanas seriam pautadas no equilíbrio.
Certamente teríamos maior longevidade
Pouparíamos mais dinheiro
E todos ou a maioria teria um carro novo.

Os casamentos durariam muito mais
A família... os filhos seriam o único objetivo
Valores como a religião pautariam nossa existência
A vida seria um mar de tranqüilidade.
Rodeados de sobriedade e comedimento
O pudor seria de novo exaltado
Como o estilo do homem civilizado.

Estaríamos preparados para o Juízo Final
Sem a bebida a vida entraria nos eixos
O mundo seria um lugar mais sensato... seguro
A alimentação sem os petiscos gordurosos e salgados
Traria como conseqüência uma dieta rica em nutrientes
Uma existência mais saudável
Mais completa... e menos humana!

Se a bebida fosse proibida
Haveria a desumanização do homem
A essência natural cairia em desuso
Em seu lugar iria surgir o super-homem
Ajustado para a moderação e o niilismo
Para a falta de emotividade e de altruísmo
Regidos pela perfeição
Pouco a pouco seriamos chamados de “deuses”.

Alguém aí quer ser Deus?
Uma cerveja, por favor!

joasvicente

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