sábado, 4 de julho de 2009

LUZES ACESAS

Esse luar que se vai
A luz tépida do amanhecer que se anuncia
O Sol que brilha timidamente no horizonte
Rasgando ao meio a penumbra da madrugada
E o meu sono profundo
Habitado pelo desejo intenso de você.

Sonhos dilacerados pelos raios do alvorecer
Meus olhos fechados
Teimam em buscar no afago dos lençóis
Na lembrança esquecida
De teu cheiro... De teu corpo
Da beleza que emerge como puro encanto.

O canto dos pássaros é cada vez mais estridente
A maestria da aurora é inaugurada
Os odores da manhã queimam as narinas
Toda a graça da noite... Da madrugada
Sucumbem frente a esse pragmatismo cotidiano
Que o dia estabelece.

Resta ainda o refúgio do quarto escuro
Das janelas fechadas
Desse frio matinal que a alvorada trouxe
E que o Sol pouco a pouco destroça
Tornando a alcova das ilusões mais ardentes
Um braseiro gélido de utopias.

Essa fresta no telhado
Uma luz horrenda que inunda o cômodo
É o sinal claro de que as aspirações febris
A ebulição do meu corpo apaixonado
Chegara fatalmente ao fim
Como um fósforo riscado na ventania.

Meus olhos abrem-se para a realidade
Minha alma repousa nesse dia habitual
Espera ansiosa pela noite...
Pela madrugada tão distante
Onde em sonhos encantados
Sonha em sonhar o teu sonho.

O ultimo bocejar
Os pés que buscam no chão o calçado
A ilusão acaba junto com a penumbra
Desperto para esse personagem diário
Que protege a minha verdadeira vocação
À noite... A madrugada... O sonho!

Sou um vulto inanimado
Que só revive nesse mundo imaginário
Onde reinam anseios ardorosos
Paixões delirantes
Devaneios arrebatadores
Só possíveis no recôndito das luzes apagadas
De madrugada!

joasvicente

sexta-feira, 3 de julho de 2009

ESSE RÉLOGIO QUE NÃO PARÁ

O meu interesse é o “é” da coisa
Ou a coisa do “é”
Num sei qual?
Esse sentido enigmático que não pode se tocado
Esse constante tempo
Que aprisiona a idéia
Esse sentir, que já se foi
Esse presente-passado.

O meu interesse é esse!
Prender por meros segundos
Essa agonia latente
Esse desespero passado.
Vontade de escrever bem rápido
E aprisionar o pensamento nesse exato segundo
Nesse angustiante presente
Que é mera ilusão no transcorrer do relógio.

Essa coisa de ser sempre do passado
Irrita-me de forma tamanha
Penso em descobrir um mecanismo qualquer
Em que esse relógio pare
Esse tempo pare
A vida entre em sentido contrário.
E tudo descompassado
Faça com que surja a explicação do que penso agora.

Vontade de romper esse sentido temporal
Buscar a essência do milésimo
Descobrir o ponto exato
Em que um segundo sucumbe frente a outro
A exata transição em que deixo esse ser de ontem
E inauguro esse novo ser
Que existe agora nesse segundo
Nessa ultima palavra que escrevo.

Se a palavra mudou, tudo tornou-se ultrajado
Se o minuto passou, tornou-se passado
Quero esse sentimento de hoje
Essa dor dilacerante de agora!
Diante desse impossível
As forças se diluem
Como águas passadas de um rio qualquer
E eu paraliso frente a essa humanidade irrisível.

Quero o é da coisa!
A essência primeira...
O gesto imediato...
O prazer depressa.
A circunstância atual...
O piscar dos olhos...
A palavra ultima...
A que se resume meu pensamento AGORA!

joasvicente

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O PRÓXIMO PASSO

“Qual o objetivo de tudo isso?”
Vi um sujeito perguntar aos berros
Enquanto levava as mãos à cabeça.
Enquanto enlouquecido esbugalhava os olhos
Que marejados
Deixavam rolar uma lágrima de desespero.

Diante desse grito sufocado
O sujeito entorpecido buscou refugio
Numa brisa leve que passava
Desviando-se dos prédios
E atenuou a face estremecida
Do sujeito que ousou perguntar
O sentido de tudo isso.

Pareceu providencial!
Aquele vento forte paralisou a cena
As mãos deixaram à face
As lágrimas presas no canto dos olhos
Escorreram pelo semblante.
O suor tépido inundou o sujeito
Que atônito e paralisado murmurou algo incompreensível.

A fisionomia do moço estarrecida!
O movimento da cidade
O barulho dos carros... Das pessoas...
Tudo em desalinho e Imóvel!
Como se a vida fosse interrompida
Nesses três ou quatro segundos em que eu observei o homem
E ouvi... Aquela frase estridente.

A decisão do homem sem sentido
Foi olhar pros lados na esperança de algo acontecer.
Uma voz... Um deus qualquer pra lhe salvar!
Um brado maior do que aquela brisa
Qualquer coisa lhe servia.
Nada aconteceu
A cidade seguiu a sua rotina.

Diante dessa desesperança.
Seu corpo pareceu inclinar-se
Como se fosse tombar!
Confesso que temi sua queda.
Mas ele equilibrou-se e entendeu de uma vez
Que o único sentido naquela hora
Era o próximo passo.

Que tudo se resumia ao movimento
Empregado entre uma perna e outra
Que a razão de ser humano é uma só...
Instintivamente ele mexeu os pés
Uma perna lançou-se para além da outra
O movimento!!!

Ele incorporou-se a paisagem da cidade novamente
Os carros... As pessoas... O barulho
Tudo tinha sentido de novo
A brisa que desviou-se dos prédios e o atingiu
Perdera força... As lágrimas secaram.
Ele que era o único sem sentido
Encontrou o seu,
Ser parte dessa paisagem.
Onde tudo funciona pelo movimento!

joasvicente