domingo, 12 de setembro de 2010

FOLHA RISCADA

Quero esperar a vida que vem
Se é que há
Com uma grande dose de surpresa.
A incerteza sempre me pareceu muito mais sacra
Do que qualquer forma de confiança.

Desconfio que, se existe céu... ou inferno
Ou divindades e demônios
O encontro com seres tão supremos em bondade... ou maldade
Modifique os indivíduos de algum modo
Seja para o bem... ou para o mal.

Prefiro o deslumbramento desse encontro
A dúvida como amuleto sagrado
No mais, não creio em muita coisa
Mais se há algo
Não a muito o fazer além de viver intensamente.

Esse minuto em que termino o texto
Talvez seja a única certeza... entretanto vez ou outra
Minhas mãos vacilam e preferem letras
Que possuam outra sonoridade
Do que eu quero dizer nessas linhas.

Quando esse ímpeto é muito forte
Fecho os olhos tentando desviar-me dos meus “dedos viciados”
Mudar o rumo desses signos compreensíveis
Escrever palavras que soem diferentes
E que digam algo mais do que já dizem.

A vida parece-me do mesmo jeito
Como os “dedos viciados” em escrever
Buscando em rabiscos novos palavras diferentes
Sons incompreensíveis e distintos
Que padecem sempre no fim da linha... da folha... do papel.

Mudar a folha até funciona... ou não
As linhas voltarão a sucumbir
E depois... e depois... e depois
Restando o conformismo de que é necessário findar o texto
Antes que se torne enfadonho e obsoleto.

Deixemos que a morte venha
E que nossos entes chorem como é de costume
Que um sacerdote nos encomende a alma como é de práxis
E que sigamos curiosos e cheios de admiração
Como quem vira a página e encontra a folha já riscada.

joasvicente

terça-feira, 7 de setembro de 2010

“A TUA PRESENÇA”

Resta o consolo do teu rosto
Cravado em meu pensamento
A sutileza de sua voz
Imaginada em meu ouvido
O teu tênue cheiro
Deliciando as minhas narinas
O brilho sutil e tímido
Dos teus belos olhos
Que inundam e afagam a minha'alma.

Resta um lugarzinho
Tímido e esquecido
Que ao menor bafejo de tua presença
Aviva-se na minha mente
Como uma arvore mirrada
Pela secura da desilusão
Ao menor contato das tempestades de verão
Crescem-lhe flores joviais
Galhos altos e viçosos.

Saudade da possibilidade de você
Quando as madrugadas eram a minha única alternativa
À atroz falta do encanto da heroína.
Vez por outra atenuada em sonhos e pesadelos
Eu sou o poeta e grito enlouquecidamente
Desejando o socorro
De minha destemida paladina
Ou apenas sua imagem longínqua na escuridão...


Sem a presença de sua heroína
Riscando minhas noites com coragem e bravura
Eu choro choro languidamente
Meus olhos enchem-se de lágrimas febris
E o ardor do desalento
Habita o meu peito débil
Com pavor e tamanha tristeza.
A dor da solidão torna-se minha mais fiel companheira
E meus versos perdem o encanto inicial.

Resta em algum lugar
Na morada entre o encanto e a solidão
O poeta com o lirismo de suas estrofes
E a heroína com a bravura de seus atos
Impedidos pelo destino
Do mágico e delicado amor


Resta aos dois, com soluços, suspiros e tremores... a palavra...
A ternura... a ação e o poema.

joasvicente

"E SÓ PENSAR EM VOCÊ"

Tem um lugarzinho
Que não deixa de ser teu
Nele te encontro todas as madrugadas
Ora em sonhos fabulosos...
Ora em recordações delicadas
Que deixam em mim
Um perfume de lembrança seu
Que nem sei se de fato é.

Nesse silencio avassalador
Fantasio teus olhos
Brinco com teu sorriso
Afago teus cabelos com meus dedos.
Nesse lugar só nosso
A malha fina do bom senso
É mera artimanha dos “desamados”
Sem importância nenhuma.

Nesse lugar a possibilidade existe
E eu me jogo como num devaneio
Das nuvens altaneiras da paixão...
Nessa longa queda livre
Observo as paisagens em que você esteve
Busco indícios quaisquer
Ou respostas animadoras
Que talvez só teu beijo pudesse responder...

Diante da impossibilidade real
Contento-me com o teu cheiro
Com esse aroma fantástico
Que delicia-me os sentidos.
Contento-me com esse "você imaginário"
Vivendo nos meus sonhos encantados
Nas canções mais belas
No sabor do desejo diluído em teu sorriso.

joasvicente

EGOÍSMO

Difícil dizer alguma coisa
Difícil dizer...
Escolher as melhores ou piores palavras
Nunca é tarefa das mais fáceis
Escolher o silêncio como discurso
É tão complexo e desesperador
Quando há tanta coisa para ser dita.

Quero te ver de novo!
Na tua frente escolho o que dizer
Ou quando devo calar
Os teus olhos guiarão meu movimento
Talvez saiba como agir ou não
Não sei.
Apenas quero te ver.

Dizer algo a você
Jogar na tua cara
Tudo o que você me fez
Todo o sofrer nas noites agoniadas
E o desespero nos suores...
Nas descrenças endoidecidas...
Nos protestos calados.
Nesse eu mudo!

Preciso te xingar de qualquer coisa
Qualquer coisa que doa em mim
Mas que é preciso ser dita
Vomitar palavra por palavra
Com a tenacidade de um leão em uma caçada
Ou de uma zebra em plena fuga
Preciso te agredir!

Essa é a palavra A-G-R-E-S-S-Ã-O
Rasgar esse último bilhete
No bolso de dentro do paletó
Que eu nem uso mais
Nem lavei... Deixei ele lá
Pra ser esquecido por mim....
Ou pelas traças.

Quem dera elas morram de indigestão
Intoxicadas pela tinta da falsidade
Com que você me escreveu
Aquela ultima frase
Que resumia-se em duas palavras
Com a mesma sonoridade
TE AMO!

Esquecer de uma vez
Toda aquela história minha
Que você destruiu naquela noite fria
Quando deitada em meus braços
Sucumbiu rumo ao desconhecido
E num último suspiro me deixou aqui
Sozinho... cansado e vivo!

joasvicente

domingo, 11 de julho de 2010

SOBREVIVENTE

De repente o mundo todo é esse universo sem sentido, e a gente vai dando um jeito e criando expectativas como se o mundo inteiro fosse a vida da gente, e é. O universo todo resumido a esse corpo débil, a esse pensamento inconstante, a essa organização doída, que eu dei um jeito de inventar, pra sobreviver.
Aí vem a velhice e a gente continua criando os sentidos pra não doer tanto. Vez por outra o desencanto abate-se em momentos de preguiça extrema. De repente tanta coisa boa acontece, mas tanta coisa ruim também e a gente repete “é a vida!” pra não pesar mais, pra levantar no dia seguinte.
Acordar é tão difícil, mas a gente cria perspectiva, uma esperança ultima pra não sucumbir diante de um mundo tão sem criatividade. Buscamos sempre o desconhecido, a fim de ficarmos entretidos e aí não vermos a vida passar com seu enfado diário, com o engodo de todas as horas.
A parte mais divertida são os planos, minuciosamente arquitetados com uma precisão de um projeto de engenharia, entretanto, a vida não são números é sim a intensidade do ultimo suspiro, fraco. Os planos tornam-se reais e aí perdem o vigor, mais a gente cria outros e outros e mais outros para acreditar que tudo tem significado.
De repente estou eu procurando uma palavra nova, pra designar algo tão velho e habitual, o tédio... De repente o sentido pra mim é esse, o desencanto, a desesperança e esse ponteiro quase parado, marcando 10:10 da manhã. Nessa manhã sem vento, sem sol, sem graça. Ainda que houvesse vento ou sol, ou graça, ela continuaria sendo enfadonha.
Quem me ouvir agora, pode imaginar que nesse instante “ando meio a flor da pele”, mas nem é isso; aprendi a inventar realidades, a viver vidas que não são minhas, a criar epopéias homéricas, desaprendi de ser triste. Mas só nos momentos em que olho o relógio com os ponteiros parados, gritando no meu ouvido o que é o tempo, só nessas ocasiões é que envelheço a alma, porque a felicidade é está descuidado.

joasvicente

sábado, 3 de julho de 2010

QUEM É ESSE?

O que imagina alguém quando lê o que eu escrevo?
Que sensações aparecem
Que percepções da realidade existem
Exatamente nessa hora que alguém lê o que escrevi?
Qual a viagem é empreendida pelos olhos do leitor?
E a imagem que surge nesse momento primoroso
Qual será?

O que pensa esse curioso
Que descobriu-me nessa folha de papel?
Que foi juntando todos esses signos inexatos
E transformou-os em palavras... em sonoridade?
Quem é esse sujeito desconhecido
Que burlou a lógica da pressa
E deteve-se nesses rabiscos?

Quem é esse do outro lado da tela?
O que pensa essa mente quando lê o que eu penso?
Quantas perguntas são feitas
E quantas respostas conclusivas?

sábado, 5 de junho de 2010

MAS ACONTECE QUE EU...

Se eu te amo?
Não me pergunta isso mais
Amo cada pedacinho de teu ser
Com a intensidade do primeiro encontro.
Amo os teus olhos caramelados
E teu corpo onde deixo as minhas digitais.
Amo os teus lábios que se pudesse não se desgrudavam dos meus
E tua voz sussurrando uma palavra qualquer no meu ouvido

Até as discussões mais acirradas eu amo
Amo a forma como você maneja o cigarro
O jeito no cabelo...
As tuas mãos magras e lindas que deveriam tocar somente a mim.
Amo a tua pele morena... mameluca...
O teu perfume que impregna minha camisa... meu corpo e minha alma.
Amo o detalhe de teu corpo tímido
E tudo o que ele me diz quando fica mudo.

Amo as tuas mentiras e a forma como você conta cada uma delas
E acredita nelas.
Amo a forma fria como você me trata certas noites
Pra depois explodir em paixão.
Amo o tom sarcástico, irônico de teu discurso
Quando defende-se de qualquer atitude minha.
Amo as tuas justificativas, as tuas desculpas
E a forma como você sempre encontra uma alternativa pra me acusar.

Amo as tuas acusações e os teus esclarecimentos
A forma como junta as palavras com sensatez e retórica
Amo o teu choro quando explode sobre mim
E o desespero em teus olhos inchados e apaixonados.
Amo a tua irracionalidade no fim de noite
Quando você repete que me odeia e me ama...
Amo o teu amor louco... intenso e sem limite
O teu beijo com gosto de desejo.

Amo a tua voz no telefone...
E a falta que sinto de nossos encontros.
Das tardes-noites regadas de uma bebida qualquer
E os planos que traçamos juntos
Sem realizar nenhum.
Amo os nossos corpos juntos
E o suor colando minha pele na tua
Quando olho nos teus olhos e digo que te amo.

Amo tua violência e teu estresse
Tua voz zangada e enfurecida.
E a voracidade com que toma a minha boca
Sugando minha saliva.
Amo o sabor de teu corpo trêmulo
Arrebatado por minhas mãos que o possui.
Amo cada momento que estamos juntos
Quando brigamos ou nos beijamos.


joasvicente