Quero esperar a vida que vem
Se é que há
Com uma grande dose de surpresa.
A incerteza sempre me pareceu muito mais sacra
Do que qualquer forma de confiança.
Desconfio que, se existe céu... ou inferno
Ou divindades e demônios
O encontro com seres tão supremos em bondade... ou maldade
Modifique os indivíduos de algum modo
Seja para o bem... ou para o mal.
Prefiro o deslumbramento desse encontro
A dúvida como amuleto sagrado
No mais, não creio em muita coisa
Mais se há algo
Não a muito o fazer além de viver intensamente.
Esse minuto em que termino o texto
Talvez seja a única certeza... entretanto vez ou outra
Minhas mãos vacilam e preferem letras
Que possuam outra sonoridade
Do que eu quero dizer nessas linhas.
Quando esse ímpeto é muito forte
Fecho os olhos tentando desviar-me dos meus “dedos viciados”
Mudar o rumo desses signos compreensíveis
Escrever palavras que soem diferentes
E que digam algo mais do que já dizem.
A vida parece-me do mesmo jeito
Como os “dedos viciados” em escrever
Buscando em rabiscos novos palavras diferentes
Sons incompreensíveis e distintos
Que padecem sempre no fim da linha... da folha... do papel.
Mudar a folha até funciona... ou não
As linhas voltarão a sucumbir
E depois... e depois... e depois
Restando o conformismo de que é necessário findar o texto
Antes que se torne enfadonho e obsoleto.
Deixemos que a morte venha
E que nossos entes chorem como é de costume
Que um sacerdote nos encomende a alma como é de práxis
E que sigamos curiosos e cheios de admiração
Como quem vira a página e encontra a folha já riscada.
joasvicente
domingo, 12 de setembro de 2010
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