quinta-feira, 6 de novembro de 2008

SEM PALAVRAS

Quando a solidão
É a unica alternativa
Crio algo para me acompanhar
Nessas noites frias
Nos tumultos intensos...
A palavra é sempre minha companheira fiel.

Quando os termos me fogem do pensar
Surgem no papel
Vírgulas... pontos finais, exclamações;
Admiro-as tanto
Tão belo o seu entonar
A delicadeza com que separam os sentidos...
Os sujeitos... as orações.

A paixão é mais intensa no texto escrito
Onde a atenção do leitor viaja
Nas asas do detalhe
Na suavidade delineada dos corpos
No ardor de cada sussurro...
De cada toque
De cada beijo.

O texto... O texto!

Adoro tanto a palavra
Que pretendi criar um alfabeto
Só pra mim.
Para compreender o texto sozinho
Num universo solitário
Egoísta... só meu!

Mas a função do texto é criar
Não em quem escreve
Mas em quem lê
Todo esse encanto do imaginar.
Um alfabeto só meu
Um segredo só meu
Mas qual a função da palavra
Do segredo senão ser decifrado?


Pistas devem ser criadas
Traços comuns que deixem claro
A vontade de quem escreveu de ser descoberto.
A função da palavra é essa
Possibilitar a quem lê a descoberta
Desse universo criado pelo autor.
Ou ao menos imaginar.

A vida inteira registrada não numa imagem
Mas num texto
É tão mais convidativo.
A vida permeada de sílabas...
Crases... reticências
É tão mais significativa do que é de fato.

A vida de qualquer individuo
Torna-se a aventura mais surpreendente
O ato mais notório...
A virtude mais virtuosa.

As linhas de um texto
Os parágrafos e interrupções
Criam esse ar deslumbrado
Essa realidade fictícia e parcial;
Esse tempo irreal
Essas figuras tão familiares...
Essa vontade de entrar num cenário
E viver a intensidade de cada personagem.

A palavra... a palavra!

joasvicente

Um comentário:

alzeny lira disse...

Seus textos conseguem me emocionar... O que cada vez é mais difícil! Parabéns